Deixei para trás a Tunísia onde passei férias maravilhosas e regressei ao pequeno rectângulo desta ilha colada à Ibéria, longe da batuta das classes dirigentes da China, da Rússia e dos States. Aqui, só se fala dos silêncios do José e da Manuela e, à falta de falarem da fala dos outros, os jornais falam da fala e da falta dela, e apontam o dedo aos que não se prostram reverentemente aos pés da Sacrossanta Comunicação. País esquisito!
Sousse
Concluído o trabalho que me levou à Tunísia, estive de férias alojada em Sousse mas passei a maior parte do tempo no mar, numa embarcação tripulada que me emprestou um iemenita, meu colega de profissão.
Sidi Bou Said
Ainda tive tempo para estar com o Rodrigo Rodrigues, do site O Tremontelo, em Sidi Bou Said, onde tomámos algumas infusões de menta. Ele sente-se bem lá no lugar onde está, na Líbia, em pleno deserto, sítio que não quer revelar. Dá ares de se sentir bem e diz que não quer voltar. Deixou de andar de camelo por causa da coluna e arranjou um burro, que trouxe com ele para Túnis, com quem anda sempre, e com quem fala bastante. Diz que é muito esperto e que lhe faz lembrar o Tigre.
Agora é que vão ser elas, as pessoas daqui andam todas com um ar enjoado como se a vida tivesse que ser uma tristeza e os problemas se resolvessem por milagre. Nunca vi povo com tanta falta de energia e tão pouca necessidade de acção.
Vou ter que me organizar para visitar os blogues das minhas amigas. Ai, como recuperar tanto tempo fora?!
Beijinhos
Teresa
terça-feira, 9 de setembro de 2008
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24 comentários:
Passa pela cabeça de alguém pedir desculpas por ter tido umas férias longas??? :))
Também já estive em Sousse, e Tunis, e tenho saudades. Adoro toda a bacia mediterrânica!
... Sidi Bou Said na altura em que lá estive tinha as casas pintadas com muito azul e cheia de gatos. Não consegui meter conversa com nenhum deles pois miavam todos em tunisino. Foi no ano em que se disputou a Taça da Nações Africanas de Futebol e a Tunisia foi campeã (conversa de homem) e eu andei pelas ruas aos berros com aquela maltosa toda e vestido apenas com um lençol branco para não dar nas vistas. Mas ouve um indígena mais observador que avisou os outros "anda aqui um gajo cheio de insónias a gozar com o pagode!". Foi assim que simpaticamente e cheios de sorrisos me levaram até ao aeroporto com palavras de ordem "vai e não voltes!" e "vai dormir que o teu mal é sono!". Nunca mais voltei à Tunísia mas de vez em quando roem-me as saudades.
Bem aparecida menina Patanisca!
Pelos vistos juntaste o útil ao agradável e deu para passear e trabalhar...
Por aqui, como já constataste, fala-se de quem fala e de quem não fala!
Mas não deixa de ser o nosso cantinho!
Abraço e boas visitas
Fizeste bem, viajar é aprender, comparar e, fundamentalmente, VIVER.
Espero que tenhas obtido excelentes frutos para que os degustemos juntos.
De momento agradou-me o que me contaste.
Beijinhos
Ora a mim me ocorre que foi arranjar um burro tão longe, o nosso amigo?
Resta-te uma boa recordação ment(al)!
É preciso paciência.
É o tal canto que nos calhou: e já foi bem pior, que o diga o Gervásio.
Volta sempre, dá lá um abraço ao tio libiano (ou leviano que o vento o leva por todo o lado!)
Bjinhos
refrescante o teu blog.
beijos
Oii...passeando pela net parei aqui...:)
Ótima quarta... PRI :)
Mas que sorte a tua com essas maravilhosas férias. As minhas por aqui foram coas também (não tinha TV e estive bem... Alentejo de minha alma!)
Beijo
Pois que sejas bem regressada, querida Teresa! É bom saber-te de volta e que a tua estadia na Tunísia valeu. Gostei, sobretudo, de saber que tinhas estado com o Rodrigo e que ele, apesar de perdido como sempre foi e assim será, está relativamente bem, mais o seu burro, com quem fala... o que me parece, de resto, um bom sintoma de manutenção do seu estado mental.
Vamo-nos encontrando por aí, não é, amiga?
Um beijo.
belas férias e que memórias!| Obrigada pelo beijo do rodrigo
Olá Patanisca,
Ninguém raptou o teu tio nem o mantém sequestrado. Fica sabendo que, pelo contrário, se encontra muito bem, de boa saúde e em excelente companhia (ele assim o diz!).
Aqui há uns dias comentou comigo que começava a sentir saudades de algumas pessoas: do seu querido amigo Rodrigo, da sua adorada sobrinha Teresa... (bom, pelo menos, e acima de tudo, desses dois). Pelo que me deu a entender, pensa visitar-te, e quiçá ao sítio do Tremontelo (apesar de o Rodrigo se encontrar ausente...). Poderá acontecer, inclusivamente, que tenhas uma surpresa - agradável, espero. A verdade é que pode muito bem acontecer que eu vá com ele. Afinal, agora andamos juntinhos que nem siameses e a separação, ainda que por pouco tempo, está completamente fora dos nossos planos.
Fica, pois, descansada, Patanisca, que eu trato muito bem do meu gigante (como não o fazer? O homem é um anjo que me caíu aqui no jardim... completamente encharcado e aflito e aqui acabou por ficar, depois de uma noite de tempestade lá fora - lareira, aconchego e muito vinho do Porto cá dentro...) Mais não preciso dizer, pois não?
Um abração do teu tio e um beijinho meu. Até breve.
Tens tu muitas parecenças com ele!
Tivemos a sorte de viver logo a seguir à guerra, apanhar 20 anos mais tarde outra, ver o fim dela ...
e esperançar que a vida continue, no canto que nos coube (para ti será mais "couve e tremontelo")
Bjs
Justine
As férias não foram longas, a ausência foi. Pedi desculpa só pelo silêncio (como diria o Rodrigo, pela rotura da comunicação porque o silêncio ainda é comunicação).
Quanto à bacia mediterrânica, tens toda a razão. Como poderia não ser maravilhosa uma terra que tem o mar no meio? São os compêndios da geopolítica que a separam em três continentes. Mas que temos nós a ver com os nórdicos, os berberes com os bantos e os sírios e palestinos a ver com os orientais? Foi no mediterrâneo que todas estas distantes civilizações se uniram e foi da civilização mediterrânica que partiram as naves para globalizar o planeta. Mas isto é a grande história que muitas vezes obscurece as histórias menores, como a de Baco e Ceres que por aqui espalharam as melhores iguarias do mundo, o prazer da vida (mesmo quando chorado, o dolce farniente e a aurea mediocritas. Que estou a dizer?
legivel
Sidi Bou Said ainda tem as casas pintadas com muito azul, muitos gatos, o mediterrâneo muito azul, os indígenas continuam e perguntar pelo Figo e foi um delírio muito relaxante estar com o Rodrigo no Café des Nattes a beber chá verde com menta.
Quanto aos lençóis, realmente o melhor é usá-los só para dormir. Mas tens razão quanto às saudades. Se pudesse, a estas horas estava lá pespegada.
Rosinha dos Ventos
O útil, às vezes é, por si só, agradável: as questões hidráulicas nestes países são muito interessantes e implicam viagens a sítios longínquos, de bimotor, 4x4... Há contactos com políticos, empresários e técnicos, mas também com as populações nativas cujos interesses têm que ser levados muito a sério e as pessoas escutadas porque só os seus conhecimentos e sensibilidade permitem operar mudanças sustentadas, não só no que se refere à preservação dos bens naturais e culturais, como para achar soluções técnicas baseadas no conhecimento tradicional.
O agradável é outra história: as férias são agradáveis porque são um tempo privilegiado de disponibilidade. E, se já percebeste, eu só faço o que me dá na gana. Mas há alturas que ainda são mais agradáveis quando se juntam circunstâncias extraordinárias que devem ser vistas como oportunidades.
A primeira, foi o facto de o Rodrigo se ter disponibilizado a vir ter comigo. Ficámos uns diazinhos em Cartago e demos por ali umas voltas (as ruínas, o Bardo, etc). Ver o mundo e os lugares pelos olhos do Rodrigo é um fascínio indescritível e eu sinto-me pequenina como quando passeávamos os dois de mãos dadas no Jardim Grão Vasco em Benfica e ele mostrava-me os cisnes do lago enquanto me contava histórias maravilhosas de princesas que eram cisnes. E eu sentia-me bonita por dentro, na minha qualidade de princesa e na de cisne.
A segunda foi ter travado conhecimento com o Ahmed, um príncipe das arábias travestido de patinho feio, e que procura no trabalho a felicidade que o dinheiro não dá (isto é, o excesso de dinheiro!). Emprestou-me um dos seus barcos quase que a pedir desculpa de ser o seu dono. Acho que mos oferecia todos interessadamente, mas desenganei-o à primeira abordagem. E isto são contas de outro rosário.
O que se passa por aqui, como percebes, só me merece um arrasador encolher de ombros.
Duarte
Como diria o Rodrigo, viajar é errar. Só depois, na errância, é que se aprende.E isto é um círculo vicioso: porque também se erra quando não se sai de um lugar. E, se alguma coisa é "viver", é seguir o sentido do vício.E só o vício nos faz ver o rosto da morte e, só então, descortinar o sentido da vida e do estar no mundo.
Apraz-me que partilhemos os mais suculentos frutos do nosso convívio.
Bettips
Arranja-os onde os há. Ele diz que no cantinho os burros são aleijados: só têm duas pernas e pouco entendimento.
O tio Gervásio, coitado, acha que isto só melhorava com o regresso da monarquia. Não percebo como ele e o Rodrigo se entendem. O Rodrigo dava-se bem com o papai, que foi um capitão de Abril. Mas desde que deixou a nossa companhia, o Rodrigo transferiu esse afecto para o tio a quem protege como se fosse o irmão mais velho. Dão-se bem sendo em tudo tão diferentes.
Agora leviano não é. Então Bettips? Ele farta-se de me falar de ti e, garanto-te, só diz do melhor de ti. Fala de ti como a mulher das cidades (ele que é um urbano tão rústico :)))
Quanto ao vento não digas nada. Ele, que perdeu 20 kg esta temporada, anda lá no deserto líbio sujeito a ir pelos ares. Espero que não lhe aconteça nenhuma desgraça. Felizmente o burro parece ser mais sensato e um líder natural nas situações mais controversas. E antes de levantar o vento, o casmurro teima e não sai. O Rodrigo impacienta-se mas acaba por ficar no abrigo e nós todos contentes.
encena_dor
Terei todo o prazer em te receber quando voltares aqui a refrescar-te. E pode encenar a dor e a alegria como quiseres que neste sítio não reprimimos as emoções.
menina atrevida
Obrigada e volta sempre. O melhor de tudo para ti, também.
maria carvalhosa
Vamo-nos desencontrando por aí, não quererás tu dizer?
Quanto ao Rodrigo, asseguro-te que o seu estado mental é o melhor que possas imaginar. Está um homem "perdido" de ternura, o querido. Receio é pelo seu estado físico. Nem imaginas as temperaturas no deserto nesta altura do ano. O homem quase não come, só bebe o seu chá. Perdeu peso e está com figura de asceta. Parece as figuras dos quadros daquele pintor espanhol, não me lembro, vi-as no Prado e impressionaram-me tanto.
Teresa Durães
Um dia apanho boleia de ti e voamos as duas para lá. E desceremos ao fundo do mar azul a colher memórias de um tempo inolvidável
Mafalda
Chamo-me Teresa. Se me assino por Patanisca é porque o Rodrigo me deixou o blogue assim e a ele autorizo-o a chamar-me como lhe apetecer.
Quanto a vocês os dois o melhor era deixarem-se de mistérios e portarem-se como adultos que são. Se o tio não quer que eu vá aí, que venha a Lisboa ou que marque encontro comigo em Santarém. Se a doutora quiser vir com ele não se faça rogada.
Ai é um anjo? Eu acho é que virou anjinho, mas isso é lá com ele. E se tiveram os dois uma noite de tempestade regada com vinho do Porto, o prazer foi vosso e ninguém tem nada a ver com isso.
Até.
Bettips
Tenho parecenças com ele? Espero que te refiras ao Rodrigo, porque com o tio tenho pouco a ver. Dizem que tenho o feitio dele, mas um pouco mais incendiado. O Rodrigo diz que é da idade e que me passa. Eu fico irritada (piscar de olhos)e ele delira quando fico irritada.
É realmente uma grande geração. É pena é vocês estarem um pouco velhotes que ainda davam um jeitão cá no cantinho que nos couve.
Papoila
Alentejo sem televisão combina bem com bem estar. Isso é descanso a sério, faz-me lembrar quando estou no Tremontelo. E ando sempre ocupada com pequenas coisas que me dão um prazer extraordinário.
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